Uma fotografia é bonita. Mas só durante três segundos. Bonito é o movimento, piscar os olhos. Se pensarmos um bocadito, grosso modo, piscar os olhos pode ser considerado algo equivalente a tirar uma fotografia. Embora o acto de piscar os olhos seja algo inerente à nossa vontade, como muitas vezes é o clicar no botão quando nos apanhamos como uma máquina fotográfica na mão. Se olharmos para estas e as compararmos sob um ponto de vista abstracto, porcebemos que capturamos essencialmente momentos. Bons ou maus, chocantes ou enternecedores. Com ou sem máquina, ficamos - mesmo que por breves segundos - com aquela imagem na nossa memória.
Com recurso ou sem recurso a foco tecnológico, o que é certo é que fica sempre a nossa interpretação do momento, sendo a imagem absolutamente igual para a generalidade das populações. A sensação com que vocês ficam é a de que eu estou para aqui a escrever balelas. A sensação com que fico é a de que ninguém se importa com a interpretação que os outros têm da mesma imagem. Considero isto um princípio básico da convivência. Talvez o princípio básico da convivência dentro de uma sociedade ou cultura, seja ela portuguesa, chinesa ou indígena.
Ao olhar para uma imagem, é importante que o façamos tanto do lado do focador como do lado do focado é essencial para tirarmos melhores fotografias. Só assim se cinsegue agradar a um maior número de pessoas. O que, consequentemente, nos vai fazer sentir ainda mais orgulhosos da paisagem que capturamos.
Avançando um passo em direcção à sala de revelação, percebemos que o paralelismo não se esgota aqui. Só pesso que façam um exercício e olhem sob o meu ponto de vista (e que, durante 2 minutos, se orientem pelos mesmos princípios sob os quais eu me tenho guiado até aqui). Por exemplo, numa fotografia a preto e branco, vemos todos o tom grisalho do cabelo do velho no canto da fotografia ou as outras 30 pessoas que lá estão nesse mesmo espaço.
Os limites da fotografia dependem, lá está, do olhar, seja ele filtrado por uma máquina ou por um qualquer sentimento humano. As limitações dos fotografados são consequência das limitações dos apreciadores ou fotógrafos. E não se enganem porque nada disto tem a ver com o olhar propriamente dito. Pode-se e deve-se ir mudando a objectiva ao mesmo tempo que o olhar também se vai moldando. Além disso, o próprio objecto altera-se, embora seja visto como algo morto.
Um objecto, uma acção são muito mais gratificantes quando estes apenas são fotografados pelos nossos olhos e guardados na nossa memória. Os arrepios são mais saborosos, os lugares são mais bonitos e as pessoas mais... pessoas, com tudo o que isso possa acarretar. Se os outros quiserem saber precisam de estar abertos a ouvirem a nossa interpretação de beleza, tal como nós devemos estar abertos a contar a história da forma que o outro mais gosra de a ouvir. Não me refiro aos factos, mas ao retractar dos factos.
Agora, adaptem a fotografia ao que mais vos aprouver.
Paulo Jorge Rocha