Quarta-feira, 9 de Outubro de 2013

Escrever a meias #7

 

Novelas facebookianas

 

Nunca fui muito de ver novelas televisivas, a ficção desse género não me atrai. Mas, por vezes, para adormecer, dou por mim a sintonizar-me nas "novelas facebookianas" e nesse canal sim, encontram-se verdadeiros romances e escândalos, amores e desamores, paixões e traições. Enfim, tudo o que um bom livro, daqueles de fazer chorar, tem de ter.

Não concordo com o que dizem, que desabafar pelo facebook é cobardia. Então está à vista de toda a gente, as indirectas para os mais atentos têm um alvo bem grande e luminoso. Criam-se conversas paralelas, com indirectas em vários perfis, mas com um bocado de agilidade não se perde pitada do romance. De volta aos livros, é um tipo de leitura mais interativa, onde vamos escolhendo o que queremos ver, o que ler, com o que rir e com o que chorar. É um festim autêntico.

 

Mas para não desviar o assunto demasiado, de volta ao tema da cobardia, não concordo que seja, é demasiado público para ser cobardia. Falar nas costas sim, um velho método de cusquice, é falta de frontalidade. Do ponto de vista psicológico (digo, antes, psiquiátrico), provavelmente as redes sociais trazem "à rede" o procurar saber o porquê de os jovens (e adultos) não terem medo de "abrir o livro" da sua vida, sabendo que por mais indirecto que tentem ser, e lá no fundo, no fundo, devem saber, alguém, ou às vezes todos, sabem do que se trata.

Mais uma vez, é uma autêntica paródia, e ajuda a adormecer, sem ser preciso pegar no "bom" e "velho amigo" livro junto à cabeceira. 

 

Para quê pegar num livro quando, muitas vezes, esses ferozes animais virtuais lançam as suas garras tão ou mais macias do que o ecrã onde se escondem. Vislumbro, não raras vezes, a floresta a adensar-se junto à tela, os répteis a rastejarem sob as letras. Tento perceber o que elas tentam escrever. Muitas vezes com erros craços, mas não podemos exigir mais de simples répteis que apenas procuram uma vida tranquila, sem correrem mais do que o suficiente para fugirem aos animais do topo da cadeia alimentar.

 

Lembram-me o livro da selva, mas adaptado como o livro da selvinha. Nem o Moita Flores se lembraria de tal romance que, embora  sejam extremamente idênticos aos das novelas, roçam um ridículo (dito com uma voz aguda, de desespero) muito mais ridículo  do que o das novelas. Pelo menos estas englobam luz, câmaras e ACÇÀO. Mesmo assim, a envolvência é tudo e a sonorização servirá tanto para quem intervém como para quem apenas observa, à gargalhada e à cotovelada.

 

Não existe luzes, câmara, acção… porque a acção começa a partir do momento em que se abre uma conta. A metáfora talvez esteja desfasada. Não é bem novela de facebook. Talvez o termo que se adeqúe mais é “reality show”. E o facebook é escolhido porque ele é uma plataforma privilegiada para que tal “dar à língua” aconteça. Antes fazia-se o mesmo nos tanques de provincial e nas pastelarias da cidade. Os espaços de debate acompanharam a evolução tecnológica, mas os temas continuam corriqueiros como há séculos.

 

A rede social goza da versatilidade mediante a utilidade que lhe dão. As pessoas viram personagens e fazem dele um confessionário para protestarem com a chuva ou o calor ou deixarem alívios depressivos; Uma rede composta por partilhas e gente que se quer ver partilhada tal é a vontade que sente em viver de cliques alheios. São recordados todos os géneros ainda que de forma involuntária: romance, comédia, tragédia, drama, terror… Romeu e Julieta teriam morrido através do facebook; os Monty Phyton teriam um Grupo de Amigos só para publicar graçolas; O Titanic teria batido contra uma página de fãs do One Direction e teria quebrado; A Bruxa de Blairwitch era aquela pessoa que nos adiciona não se sabe bem porquê e vem sempre espalhar a inveja através de comentários pouco nobres.

 

Ai filho, isso bem que se poderia chamar a guerra das estrelas, mas nesta altura até fica mal usar essa palavra. O quê, estrelas? Não, guerra, ou achas que o ultramar é a casa de férias do Fialho Gouveia... Essa história é muito linda, mas onde é que já se viram pessoas a falar com os dedos. Além disso, ninguém se comportaria assim, por mais que o senhor ministro da presidência fizesse evoluír este país. Ó avó, mas isto é apenas uma história de ficção. Não sei o que essa palavra quer dizer, filho, mas sei o que significa dignidade, ensinou-me o teu avô, e não tinha nada a ver com isso que essa história indecente conta (enquanto se benze). Mas tenho de dizer que juntar uma moita selvagem com a pureza das flores foi a melhor ideia desse livro, digna de uma novela na radiofonia. Já serviu de alguma coisa perderes tempo na escola, embora isso não nos dê comer.

 

 

 

 

Um agradecimento muito especial ao Diogo Caldas

por ter aceite o convide de fazer parte desta colaborações.

Publicado por Universo de Paralelos às 13:44
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1 comentário:
De golimix a 9 de Outubro de 2013 às 19:52
O meu mano convenceu-me a criar perfil no FaceCoiso para ir falando com ele. O que sei é que não ponho lá os dedos há séculos, para mim só serve para falar com o meu mano, as minhas 2 primas-irmãs e saber algo sobre treino de cães. Por isso, não sei nada de novelas Facecoisianas.


Já esta parceria, convenceu-me ;- )



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