Um feito só possível de bater se juntarmos à mesa do pequeno-almoço o Paulinho Santos, o João Pinto, o Steven Seagal e um kanguru com luvas de boxe. Aceitam-se apostas para prever o vencedor. Eu aposto na mesa, porque me parece a única capaz de chegar ao fim inteira.
Pois bem. Eu alcancei esse feito. Como é que isso foi possível? Com muita força de vontade e umas dicas de Albert Fish.
Estou calmo, em casa, a beber chazinho, quando a minha prima me diz “Olha, vou ao Dolce Vita.” Achei que era a opção correcta, visto estar quase a fazer anos. Mas também lhe disse “Não me parece que vás conseguir comprar um Porsche num centro comercial.” Vem-me ela com esta “Estava a pensar comprar-te um pijama.” Se ela queria irritar alguém, acabara de o fazer. Um pijama? Eu não durmo nu e em contrapartida, ando a pé. Era uma questão de ser-se inteligente. O que ela, de facto, nunca foi. Encontrei-a desprevenida e apanhei-lhe uma mão com um ralador de queijo. Ficou sem quatro dedos, um deles o anelar. Também não lhe faz falta. Feia como é, nunca vai casar. Quando saí de casa, ficou a sujar-me a carpete com sangue. Quem suja, limpa. O problema é dela.
À entrada do prédio, deparo-me com um gajo careca a dizer que é o Bruce Willis. Eu perguntei-lhe “Como é que isso é possível, se tu és preto?” Deu a desculpa das férias em Marrocos, mas aquilo é gente que nunca passou de Beja e só lá foi uma vez porque estava a fugir da polícia e enganou-se no caminho. Mas ele continuou a insistir “Juro-te que sou o Bruce Willis. Agora, dá-me dinheiro para eu fazer um filme. Juro que não é para droga.”
Senti necessidade de usar toda a sabedoria de dez anos de artes visuais, marciais e circenses num só golpe, que eu sabia que podia deixar alguém paraplégico. Muito provavelmente, eu, se não fosse bem aplicado. O sucesso do meu desempenho transformou aquele negro encorpado numa inofensiva borboleta pisada por um gigante.
Caminho enraivecido pelas circunstâncias do dia e por estar já atrasado para a minha aula de ballet. Vocês podem rir e gozar com a minha sexualidade, mas fiquem a saber que sou o melhor da turma a fazer um assemblé. Ah, pois sou.
Precisava de uma bebida para me acalmar. Entro num café e a dada altura, sem que nada o previsse, o funcionário cospe-me na cara e fica a rir-se. Convenci-me que aquilo não aconteceu e continuei a dizer-lhe que todas as pessoas que trabalham atrás de um balcão merecem jantar cocó de boi. Voltou a cuspir-me. Eu peguei numa cadeira para lhe atirar aos dentes e diz-me o engraçado “Tu não podes bater em pessoas com óculos.” E eu respondi-lhe “Tu não tens braços, quanto mais óculos.” E não tinha. Uns dizem que cortou de propósito para não ir à escola, outros que se aleijou a cortar lenha. O que eu sei é que vinha de uma família pobre e nesse dia, comeram como abades. E já que estava com a cadeira na mão, fiz um batido de frutas. Mentira! Dei-lhe com ela nas costas, porque sabia que se ele caísse ao chão demorava a levantar-se e podia fugir sem pagar.
E bater nas pessoas ajuda a relaxar. Fiquei mais calmo e pronto para uma interpretação em pontas do Lago dos Cisnes.
Esta é a história de como agredi três pessoas em dez minutos.
Johnny Almeida