Não se tenciona aqui dar uma palestra sobre o amadurecimento ou a falta dele. Isso é tema para um bom programa da SIC Mulher. Aqui pretende-se dizer: Mesmo depois de largares a fralda, vais continuar a fazer merda. Mas cresce, porque crescer tem coisas boas, para além de veres o sítio por onde nasceste, só que em outras pessoas.
Ninguém aprende a ser uma criança. Já o somos quando nascemos, quer estejamos a beber leite agarrados a uma mama (Agora bebemos da caneca e já não é mau!), quer estejamos a brincar com legos. Em contraponto, ser adulto é uma coisa que temos de aprender. Há quem aprenda bem, há quem aprenda mal e há quem nunca aprenda, como o pessoal da autonepiofilia.
"Tornar-se adulto" é uma expressão que tem vindo a sofrer uma metamorfose constante. No tempo dos nossos avós e bisavós, significava arranjar trabalho aos 14, casar aos 17 e tentar começar a fazer filhos aos 18 para ver se se chegava às dez crias antes dos 30. Uma espécie de competição directa com os coelhos como que a dizer “Ah e tal, vamos ver, afinal, quem é que põe mais seres no mundo por metro cúbico.”
Actualmente já ninguém se revê nesta sucessão de acontecimentos. Aposta-se na formação, arranja-se emprego aos 25 e casar traduz o pavor de ficar com alguém para sempre, na maioria dos casos. Ter filhos é um cálculo de “1 mais 1 igual a 3”, que cada vez menos pessoas está interessada em fazer, ou fá-lo, com mais ponderação.
Mas há coisas que não se perdem, desde Adão e Eva até aquele jovem da segunda fila que acabou de se tornar adulto há 43 milésimos de segundo. Adquire-se maturidade, responsabilidade, bom senso, algum juízo e consciência. Para os que não conseguem, existem as prisões.
Com 32 anos não podemos responder à pergunta “Amor, amanhã podes ir buscar os miúdos à escola?” ou “Pode ficar a trabalhar até mais tarde para entregarmos o projecto a tempo?” com “A, e, i, o, u. Rasga a folha e limpa o cu.”
“A, e, i, o, u. Rasga a folha e limpa o cu.” devia ser resposta universal para todas as perguntas, sem excepção. (Desculpem o pleonasmo.) Mas isso será explicado mais à frente no texto “Como perder uma boa queca com uma resposta estúpida.”
Há uma facção a igreja católica que adorava que as crianças nunca crescessem. Cá está! A sempre gira e interessante piada sobre padres pedófilos. Um clássico até mesmo entre os membros do clero. Eles riem muito à custa deste tipo de humor. Depois, limpam-se com toalhetes, vestem-se e cada um vai à sua vida.
Não devemos fugir à nossa própria personagem só porque agora temos barba ou, no caso delas, ficam chatas e possessivas e se desculpam com a menstruação.
Antes, chegávamos a casa e tínhamos o lanche feito. Deitávamo-nos no sofá com as sapatilhas calçadas, a limpar o ranho às mangas e a ver o Rei Leão.
Agora já não é bem assim. Estar em casa à hora do lanche é motivo para abrir uma garrafa de Moet Chandon. Mas se isso, porventura, acontecer, somos nós a preparar o próprio lanche. Nunca as sapatilhas vão tocar no sofá, porque sabemos perfeitamente que quem limpa somos nós. Limpar o ranho às mangas? Nem vamos por aí. Mas vemos o Rei Leão exactamente com a mesma lágrima no olho e a nostalgia da primeira vez.
Em jeito de conclusão e porque amadurecer não passa indiferente à maioria das pessoas, fica a sugestão: É impossível ser criança para sempre. Os anões tentaram e aquilo não correu muito bem.
Johnny Almeida