Domingo, 29 de Janeiro de 2012

O muçulmano que há em nós

Segundo os meios de comunicação internacionais, citados pelos nacionais, os grandes terroristas mundiais, num ponto de vista midia ocidental, escondem-se nas montanhas. Osama Bin Laden, irmão semi-gémeo de Barbas, fanático benfiquista, escondeu-se na montanha durante bastante tempo. Saddam Hussein também por lá andou um par de temporadas. Kadafi, o homem dos ray-ban em talha dourada, num barroco claramente manuelino, também se diz que meteu lá o pé. Se não era uma montanha, era, de acordo com alguma imprensa, um planalto dos mais altos.
Quando BBC, FOX e CNN dizem “escondido nas montanhas”, querem no fundo dizer “não fazemos ideia onde o gajo está, se não já lá tínhamos ido com um máquina de filmar e umas armaduras que herdamos de um primo muito afastado.”
E resulta bastante bem como desculpa. Carrega credibilidade e sentido pragmático de verosimilidade. Remete para um lugar longínquo e não nos acarreta com culpa. Se não reparem. “Ó Johnny, viste o gato?” Respondo categoricamente “Vi, está escondido nas montanhas.” Fácil!
Outrora destino paradisíaco de seres que agregavam em si todos os poderes de um estado, ditadores, vá, as montanhas foram perdendo o seu encanto e magnitude.
Veio ter comigo, num dia de semana, um muçulmano bem apessoado para que lhe alugasse um quarto, pois andava fugido das grandes redes de espionagem. Disse à mulher que ia comprar líquido da louça e “nem bom dia, nem boa tarde”, desapareceu enquanto o diabo esfregava um olho (ou o diabo correspondeste ao islão, que não faço ideia quem seja, porque não me dou com gente de mal). E eu disse-lhe que era impossível. Mas ele insistiu e até me informou que ia à mesquita com o Abel Xavier. Continuei a negar. Por brincadeira até lhe disse “Olha pá, quartos não tenho, só se quiseres viver atrás da minha orelha direita.” E ele “Ah, está bem.” Por incrível que pareça, assim aconteceu.
É boa companhia o raio do muçulmano. Raspou-me, com um canivete, um pouco de crosta de sujidade que adquiri ainda no tempo da comunhão solene. Segreda-me coisas porcas e íntimas ao ouvido, o que aprecio solenemente. Para além de todas estas coisas maravilhosas, conta-me algumas histórias do Corão, que segundo o que percebi é um livro de aventuras que eles têm. No fundo, o equivalente ao nosso “A branca de neve e os sete anões”.
É gente muito arrumadinha e que ocupa pouco espaço. A bem dizer, é o espaço físico do corpo, uma kalashnikov e uma muda de cuecas. Não precisa de mesa, porque come sempre um kebab e aquilo, no fundo, são umas sandes, e também dorme sempre em pé para não amarrotar a barba, nem tão pouco espigar-lhe as pontas.
A única situação em que me causou problemas, foi uma vez que, sem minha permissão, queria trazer setenta virgens para trás da minha orelha. Disse-lhe logo “Mahomed, alto e pára o baile.” E ele “Mas Alá disse que nós tínhamos direito blá blá blá.” Pu-lo logo na linha “Alá manda em casa dele, aqui mando eu. Manda lá essas burcas voadoras para casa.” E ele é bem mandado, apesar do aspecto de revolucionário que tem cravado no rosto, sinais claros do tabaco e do trabalho na argila desde tenra idade. Vou vos contar uma muita engraçada entre a minha pessoa e este meu camarada do oriente. Dirige-se para mim assim “Olha, vou a Meca.” Respondi-lhe à letra “Deixa-te estar quieto. Tu não andes a chatear as pessoas.” Rimos os dois e fizemos massa de rissóis juntos.
Sobre ele, tudo de bom tenho a dizer. Simpático, divertido e já se habituou à cerveja portuguesa. Só não gosta muito de cartoons e de dinamarqueses. Fora isso, um amor de pessoa.

 

Johnny Almeida

Publicado por Universo de Paralelos às 13:56
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