Sexta-feira, 20 de Julho de 2012

E tratam-me assim…

E tratam-me assim. Não há direito. Quer dizer, atravesso eu a rua para vir aqui e não têm nenhuma consideração por mim. Esta gente não sabe quem eu sou. Eu sou superior a esta gentalha popularucha.

Eu já fui Miss Sibéria 2008. Eu inventei o sabonete líquido de alfazema. Mas ainda há mais. Ainda há muito mais. Eu já dei o corpo para fazerem moldes para os manequins da Zara. Ah, pois! Eu escrevi as últimas duas páginas da Bíblia. Eu construi um foguetão em quinze dias e só não fui à lua porque ele era de plasticina.

E sempre que vou tomar café dizem-me assim “Ó dona Glória, fica por conta da casa.” Claro que fica. Aqueles senhores do café sabem exactamente quem eu sou e da importância que tenho para o mundo.

 

Se não vejamos. Eu fui a primeira pessoa a ver extraterrestre a falar com alentejanos. E estavam a falar de coisas importantes. Havia respeito mutuo. No centro de emprego toda a gente sabe quem sou. Troco mensagens com o bispo de Porto. E as vezes até mensagens de imagem com fotografias de gatinhos. E dou-me com mais gente famosa. Sou amiga íntima da Merche Romero e do menino Tonecas. Ganhei três menções honrosas no concurso de bordados da Brandoa. Jogava ao sobe e desce com os zombies muito antes deles estarem na moda. E deixava-os ganhar sempre para eles não me comerem um braço.

 

Fui júri do concurso miss tshirt molhada da comunidade lésbica de Paris. Vieram-me convidar a casa. Gente simpática por acaso. Só não percebi aquela tradição que elas têm de tomar todas banho juntas. Fiquei em segundo lugar no corta-mato. E só fiquei em segundo lugar porque fiz o aquecimento à base de gin  e cachaça. Se estivesse sóbria, ganhava.

Fui a primeira mulher virgem de boca a conduzir autocarros. E orgulho-me disso. Se bem que ainda hoje não percebo aqueles círculos com a borda a vermelho e que dizem STOP. Na minha opinião aquilo só serve para distrair os condutores.

 

Vendi a minha colecção de cromos e um rim para angariar dinheiro para uma associação que protegia crianças dos monstros que elas tinham no armário.

E chego aqui, à fila do Pingo Doce, e para além de não me deixarem passar à frente, visto ser quem sou, ainda sou ultrapassada por um senhor com um andarilho e por uma mulher grávida. E a menina da caixa que nem a quarta classe deve ter, vem-me com a desculpa de “Ai e tal, é uma caixa prioritária”. Gente mal formada. Vou dar-lhe dois estalos que lhe viro a cara para o cu, quando ele me perguntar se tenho cartão-cliente, para ela ver se aprende. A brincadeira tem hora.

 

Johnny Almeida

Publicado por Universo de Paralelos às 18:19
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3 comentários:
De golimix a 20 de Julho de 2012 às 20:05
Faço ideia da cena que originou este post...


De Naçao Valente a 20 de Julho de 2012 às 23:52
Porreiro pá. No Pingo Doce vale tudo!


De Dulce Chamutota a 28 de Agosto de 2012 às 07:13
De nada lhe custou tantas obras caridosas se no fim das contas, foi o cúmulo para ela deixar passar uma mulher grávida, e o homem citado...gostei


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