E diz-me ela “Johnny, eu tenho um par de testículos.” Respondi-lhe “Isso para mim pouco importa. Sempre quis só a tua amizade.”
Mas não era verdade…
Eu queria mais dela que afinal era um ele, mas devia ser um ele pouco abonado, porque sempre que lhe olhava para a anca não via enchumaço algum.
Ó Deus meu, afinal a Vanessa chama-se Cláudio, mas um Cláudio um pouco afeminado, porque a fragilidade dos pulsos era muita sempre que os agitava à altura dos ombros.
Ó Deus meu, como é que eu nunca desconfiei que aquele homem vestido de mulher era apenas um homem vestido de mulher e nunca a mulher dos meus sonhos com quem me imaginava aos linguadões.
O meu mundo desabou…
Entrei no meu quarto, soturno, destruído por dentro, e com Carmina Burana a tocar nas colunas, enrosquei-me a um canto, num choro interminável de lágrimas que faziam fila para me saírem dos olhos.
Entrei no chuveiro e enrosquei-me no chão, enquanto a água me batia no corpo, como castigo violento.
Entrei no restaurante e enrosquei-me a um canto, numa sala cheia à hora de jantar. Quando o empregado de mesa me veio pedir explicações tive que lhe dizer que era alérgico ao lombo de porco mal passado, para disfarçar.
Estive tanto tempo enrolado que antes via-me à rasca para fazer alongamentos e agora conseguia roer as unhas dos pés.
Mas tinha que tomar uma decisão: renegava aos meus sentimentos e escondia o meu amor por Vanessa que afinal era Cláudio? Declarava-me àquele travesti bem-parecido?
Por fim decidi-me: fui comer um gelado.
Johnny Almeida