Viram aquele senhor que fazia gestos? Não, não estou a falar do senhor do gangnam style. Falo do tradutor da cerimónia fúnebre de Nelson Mandela. Apesar da gesticulação de ambos querer dizer exactamente a mesma coisa e a sintaxe de ambos os países ser bastante diferente, não há desculpa para tamanha falta de originalidade.
E depois, toda a gente fala mal do senhor Thamsanqa Jantjie. Ah, é maluco e já esteve preso e não sei mais o quê, mas ninguém se lembra que o homenageado da cerimónia também já estivera no mesmo papel anos antes, quando afirmava que pretos e brancos deviam tomar café nos mesmos espaços públicos ou dançar um bocadinho de Zulu Isicathamiya. E depois tudo se concretizou. Quem sabe se daqui a 30 anos a língua gestual não passará a chamar-se língua jantjie?
Alguém se lembrou de lhe perguntar se ele percebia o significado das palavras que eram ali ditas? Não me refiro ao significado propriamente dito, mas à demagogia que por ali se ia aclamando, com pesares profundos e tristezas extremamente tristes de pessoas que visitavam a áfrica do sul com intuito de ganhar dinheiro.
É uma falta de insensibilidade em relação aos vivos que me entristece, embora se compreenda que o morto estava a fazer melhor figura que o intérprete ou o responsável pela sua escolha. Não poderá ele ter pensado que a estrangeirada que lá andava a tirar fotos não percebia nada de nada acerca da tristeza que aquele povo sentia. Tristeza que arrastava consigo ânimo e vontade de fazer mais do mesmo para não desiludir aquele que agora está morto e não pode ser desiludido?
Bem sei que este afirmou estar a sofrer ataques de esquizofrenia enquanto fazia a tradução dos discursos para língua gestual e não acho que seja louco por isso, porque de facto havia sempre alguém à direita dele a falar. Com a agravante de cada um dos convidados ter sotaques estranhos e roupas piores do que a das doce na eurovisão, portanto é normal que estivesse a ouvir vozes.
O que é feito da vossa sensibilidade literária? Cada um sente e interpreta os factos à sua maneira, uns ouvem piores do que outros e alguns são mais loucos do que outros. É que nem os chochos…
Paulo Jorge Rocha